
Para a felicidade dos adoradores de filmes mudos e dos cinéfilos em geral começa hoje a III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Em sua terceira edição a Jornada vem mais forte, com mais divulgação, com várias preciosidades restauradas e, muito provavelmente, virá com mais público. Quem já deu uma olhada nos arquivos do blog sabe da minha forte predileção aos filmes silenciosos. Aliás, o nome do blog não foi escolhido à toa.
Com curadoria geral de Carlos Roberto de Souza, uma das preocupações da Jornada é atualizar o espetáculo cinematográfico das primeiras décadas do século XX, permitindo ao público contemporâneo conhecer significativas obras do passado, despindo esse contato de qualquer forma de saudosismo.
Com uma forte inspiração no evento italiano Le Giornate del Cinema Muto que acontece todos os anos em Pordenone, a Jornada se destaca não só por ser um dos poucos a privilegiar o cinema silencioso em São Paulo, e provavelmente no Brasil. Vai além, apresentando cinematografias de diversas países, fazendo uma releitura dos filmes através da presença de músicos para acompanhar os filmes, trazendo pesquisadores da área e criando um espaço para que as diversas cinematografias de outrora sejam revistas e reavaliadas.
Com a curadoria de Lívio Tragtenberg, esse ano além das apresentações musicais especialmente criadas para o evento, estão também previstas narrações e leituras dos intertítulos dos filmes, criando um atmosfera mais dramática ou mesmo teatral às exibições. A idéia é distanciar o espectador da idéia do silêncio do filme mudo, dando uma nova roupagem aos filmes e deixando as sessões mais vivas e nem de longe silenciosas. Eu imagino que as sessões se aproximem da brilhante apresentação de Brand Upon The Brain! de Guy Maddin que tive o prazer de presenciar na 31ª Mostra Internacional de Cinema: filme, música, efeitos sonoros, narração e interpretação de diálogos ao vivo.
A Jornada vem se destacando cada vez mais entre os eventos da Cinemateca Brasileira. Ano passado ganhou um site, um catálogo cheio de informações sobre os filmes apresentados, incluindo análises e resenhas, e conforme o esperado, mais fãs. Esse ano além do site, cheio de informações e interessantes imagens de arquivo, foi também criado um perfil no Twitter: o Cinema Silencioso (Cine_silencioso). Lá tem sido postadas informações sobre o que será a Jornada, chamadas e curiosidades. E espero que nos próximos dias sejam postadas também informações sobre o que está acontecendo.
A programação da II Jornada
Como nas edições anteriores, uma cinematografia nacional do período silencioso será privilegiada, de forma a destacar os trabalhos dos arquivos de filme de um determinado país. Nesta terceira edição, aliando-se às manifestações relativas ao Ano da França no Brasil, a III Jornada receberá o cinema silencioso francês através da contribuição vinda dos Arquivos Franceses do Filme/Centro Nacional de Cinematografia, da Cinemateca Francesa e dos Arquivos Albert Kahn.
A mostra do cinema francês silencioso contará com uma seleção dos primeiros filmes dos irmãos Lumière; com duas excelentes obras do cinema de vanguarda: O homem do mar (L’ Homme du large) (1920) de Marcel L’Herbier e Maldone (1928) de Jean Grémillon; com uma coletânea de filmes restaurados da pioneira, e primeira diretora da história do cinema, Alice Guy-Blaché; com o filme histórico Salammbô (1925) baseado no romance de Gustave Flaubert , dirigido por Pierre Marodon, como filme de encerramento da Jornada.
Estão previstas também uma conferência inaugural com a pesquisadora Caroline Patte e três com a pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados do Collegium de Lyon e professora da Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle, Isabelle Marinone, que falará sobre as relações entre Anarquismo e cinema na França, tema de sua tese de doutorado.
Ainda como parte da mostra francesa, será apresentado, na Sala São Paulo, de 13 a 16, o filme Études sur Paris, realizado por André Sauvage em 1928, com partitura original para grande orquestra composta especialmente por um de nossos maiores músicos eruditos contemporâneos, José Antônio de Almeida Prado.
A seção brasileira da III Jornada será dedicada aos filmes de expedição à Amazônia feitos nas primeiras décadas do século XX. Dois grandes documentaristas do período no Brasil, Silvino Santos e Thomaz Reis terão sessões especiais. Da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, será exibido pela primeira vez no Brasil, o filme The River of Doubt / O Rio da Dúvida, sobre a expedição realizada em 1914 pelo ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, em companhia do então coronel Cândido Rondon. Deste filme será feita uma cópia inédita que permanecerá no Brasil.
Para a seção dedicada à Giornate del Cinema Muto foram selecionadas as duas comédias americanas Filhinha querida (The Patsy)(1928) de King Vidor, estrelado por Marion Davies, e Doce amargura (Exit Smiling) (1926)de Sam Taylor; o drama canadense De volta à terra de Deus Back to God’s Country (1919), dirigido por David Hartford, produzido e estrelado por Nell Shipman; o drama chinês Amanhecer (Tianming) (1933), dirigido por Sun Yu e estrelado pela diva Li-li Li, e o primeiro filme longo antimilitarista do mundo Maldita seja a guerra! (Maudite soit la guerre!) (1914) de Alfred Machin.
No programa Janela para a América Latina será exibido El húsar de la muerte / O hússar da morte (Pedro Sienna, 1925), cedido pela Cinemateca Nacional do Chile, o maior sucesso do cinema silencioso chileno, que narra de forma irônica e divertida as peripécias de Manuel Rodrigues, figura quase folclórica ligada a episódios do período revolucionário de independência do país.
A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso terá a satisfação de exibir um filme silencioso realizado em 2006 pela Winsconsin Bioscope: A expedição brasileira de 1916, que reconstitui a viagem à lua de alguns aeronautas pátrios.
Será apresentado também um programa especial com a presença do músico e pianista catalão Jordi Sabatés apresentando sua partitura criada para a exibição de uma série de curtas fantásticos e animações do cineasta espanhol Segundo de Chomón. Os filmes de Chomón costumar ser figurinha fácil em sites de vídeo, se você procura por filmes mudos, mas para ser sincera eu nunca me canso de ver os filmes dele.
E por fim, a Jornada também preparou uma homenagem ao centenário de nascimento da atriz brasileira Eva Nil, a graciosa moça do convite da Jornada acima, com a realização da pré-estréia do curta metragem Eva Nil, cem anos sem filmes (trailer), de João Marcos de Almeida. Pois é, infelizmente todos os filmes da primeira musa do cinema brasileira e a grande atriz do ciclo de Cataguazes foram perdidos, incluindo Barro Humano. Só restaram fotos e alguns trechos dos filmes com Eva Nil.
Mais Informações
A III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso acontece de 7 a 16 de agosto na Cinemateca Brasileira e na Sala São Paulo. Conforme dito, o site tem mais informações sobre os filmes, conferências, lançamento de livros, mesa de debates, programação e um mapa que mostra como chegar. Para ainda mais siga o Twitter da Jornada.
Todos os eventos que acontecerão na Cinemateca serão gratuitos. E para a felicidade de muitos até o catálogo é gratuito. Já para as apresentações especiais que acontecerão na Sala São Paulo os preços variam de de de R$30,00 a R$104,00.





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